O ser humano é um bicho estranho. Movido pela curiosidade inerente à espécie, deixa-se levar para lugares inusitados e perde-se na imensidão do mundo, interessando-se por ver de perto os locais que foram – ou que ainda são – palcos de grandes guerras e por saborear o que outrora fora um grande império, mesmo que hoje esteja em ruínas. Nem mesmo os constantes conflitos na Faixa de Gaza e as terríveis notícias vindas diariamente de Israel parecem aborrecê-lo: nos primeiros dez meses do ano passado, mais de 3 milhões de visitantes desembarcaram no país.
Para percorrer as ruas por onde Jesus teria andado e conferir os atrativos da chamada Terra Santa, turistas de todo o mundo deixam de lado a violência e o temor que circunda o destino para mergulhar e se emocionar no cotidiano de uma cidade que exala religião. A imponente Jerusalém, que abriga o Monte das Oliveiras, o Muro das Lamentações e a igreja do Santo Sepulcro, entre tantos outros locais considerados sagrados para uma legião de cristãos, judeus e muçulmanos, destaca-se pela história que se desenrola no olhar do visitante e que se confunde com o que está escrito na Bíblia.
No Velho Continente, por outro lado, um museu dedicado à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi inaugurado recentemente na França, trazendo à tona lembranças de uma época que muitos ainda lutam para esquecer. Com saldo superior a 10 milhões de mortos, entre civis e militares, o governo francês vem apostando na conquista de um novo perfil de visitantes, atraídos pelo passado negro do país, para incrementar ainda mais o turismo na região. A expectativa é de que, em 2014, os números ganhem volume com a “comemoração” – com o perdão da palavra – do centenário deste acontecimento.
A algumas horas de distância, na Polônia, o campo de concentração de Auschwitz, amplamente utilizado pelos alemães durante a Segunda Guerra (1939-1945), ainda é motivo de pesadelo para os judeus. A estimativa é de que somente ali tenham sido exterminadas 1,1 milhão de pessoas a mando de Hitler, então líder político da Alemanha. Apesar de figurar como um dos mais violentos episódios da história da humanidade, o local abre as portas, todos os anos, para 1,5 milhão de visitantes, ávidos por conhecimento e, em alguns casos, de saudade de entes queridos.
Iraque, Afeganistão e Coreia do Norte são outros destinos que ganham destaque no quesito turismo de guerra, mas não é preciso ir tão longe para conferir até onde vai a ganância de um povo. A Guerra do Contestado (1912-1916), originária da disputa entre os estados do Paraná e Santa Catarina pela posse de uma região rica em erva-mate e madeira, faz do Sul do Brasil o lugar ideal para quem busca resquícios de batalhas sangrentas.
Apesar de serem taxados de bisbilhoteiros e até de mórbidos, estes viajantes representam, ao meu ver, duas verdades incontestáveis: ainda existem muitos nichos a ser explorados no setor e o ser humano é, de fato, uma criatura imprevisível, dotada de uma curiosidade arrasadora.