Fale Conosco

(11) 94399-5036

Associado

Faça o login

Falta aos governantes verem o turismo como fator de desenvolvimento

Com uma vida dedicada ao turismo e à frente da Nascimento Turismo, que no mês passado comemorou 52 anos de atividade, Eduardo Nascimento, presidente do Sindetur-SP, é tido como um dos nomes mais conceituados e experientes do setor. Nesta entrevista exclusiva ao M&E, ele fala das oportunidades do país geradas pelos megaeventos e também sobre o papel da OTAs, destacando as restrições e disputas que o setor tem travado com a Decolar.com por suas ações promocionais. O dirigente lembra que o segmento das operadoras tem enfrentado longos e difíceis caminhos e ressalta que sempre lutou por aquilo que, de fato, acredita. Confira aqui, a opinião dele sobre temas como a política de céus abertos e a crise que afeta o segmento dos cruzeiros marítimos.

Mercado & Eventos – Muito se tem falado dos benefícios que os megaeventos poderão trazer ao país. Como vê essas oportunidades e quais desafios ainda temos que superar para atingir a um padrão de qualidade no setor?

Eduardo Nascimento – Acho que essa questão de megaeventos gera, sem dúvida, boas oportunidades. Uma bela experiência que o nosso país terá pela frente com eventos como a Copa e, principalmente, as Olimpíadas. Creio que já avançamos em muitas coisas e muitos dos estados estão quase prontos, dentro do cronograma estabelecido. Claro que sempre existe um atraso aqui e outro lá. A questão principal diz respeito à mobilidade urbana, a questão dos transportes para eventos que têm local e horário definidos. É uma oportunidade para que o país possa investir em infraestrutura e melhorar também a qualidade do nosso turismo receptivo.

M&E – O que falta ainda ao Brasil para que se torne mais conhecido e atraia o turismo internacional?

Eduardo Nascimento – Creio que estamos avançando. É preciso reabrir os EBTs no exterior para promover mais o país. Já estamos caminhando para isso e em breve teremos a licitação para o novo modelo que será implantado pela Embratur na Europa, Estados Unidos e América do Sul. Temos um número de turistas que não pode ser comparado ao de países como a França, Espanha e Estados Unidos. Mas é preciso levar em consideração também a nossa localização geográfica. O fato de recebermos cerca de seis milhões de turistas por ano não é tão insignificante assim. É um número expressivo se levarmos em consideração que não estamos situados no meio da Europa. Precisamos investir cada vez mais em promoção, principalmente nos destinos próximos. O grande entrave que contribui para afetar o turismo internacional diz respeito à exigência de visto, principalmente para destinos como os Estados Unidos. Há questões burocráticas que são um entrave. Lembro que dos mais de 60 milhões de turistas norte-americanos que viajam ao exterior, somente 1% acabam vindo ao Brasil em função das dificuldades para se emitir o visto. Muitos modelos de facilitação poderiam ser adotados, como é o caso da flexibilização dos vistos, onde os mesmos poderiam ser emitidos no próprio aeroporto na chegada ao país. Enfim, modelos existem e é preciso vontade política para aplicá-los. O país deixa de ganhar divisas com todos esses entraves.

M&E – Recentemente, o Sindetur-SP entrou na justiça contra a Decolar.com. Como vê a questão das promoções das OTAs junto aos consumidores? Como evitar abusos e propaganda enganosa?

Eduardo Nascimento – Creio que a questão é simples. O Código de Defesa do Consumidor diz claramente que aquilo que você anunciar tem que vender pelo preço divulgado. Quando isso não acontece, então estará acontecendo um abuso e uma propaganda enganosa ao passageiro. No caso da Decolar.com, o que aconteceu exatamente foi isso. As OTAs gastam milhões na mídia e cabe a nós, agentes de viagens, esclarecer ao consumidor quando os abusos vierem a acontecer. Muitas vezes ele vê o preço anunciado e no final acaba pagando mais caro do que se comprasse o seu pacote de viagem numa agência de viagem, depois de contabilizar as taxas que vão sendo embutidas ao preço inicial divulgado. Já tivemos reuniões com representantes do setor para discutir essa questão.

M&E – Muitos secretários estaduais de Turismo têm defendido uma política de céus abertos para o país. Qual a sua opinião a respeito desta medida? Ela pode gerar maior oferta e concorrência?

Eduardo Nascimento – Essa é uma questão muito complexa. Céus abertos é muito bom para aumentar a oferta do mercado. Agora isso só é possível numa realidade diferenciada da nossa, porque se você traz ao país empresas estrangeiras para atuarem aqui, quem vai garantir que elas não venham num futuro breve a adotar uma política de preços nociva ao consumidor e que seja de interesse das mesmas. Seria como que a prática de dumping que já aconteceu em outros setores da economia e poderia ser adotado também na aviação comercial brasileira. Falar de medidas protecionistas é muito complicado, ainda mais num mercado cada vez mais globalizado.

M&E – O que falta para que o brasileiro possa viajar mais e conhecer melhor o seu país? Os preços são caros em comparação a outros destinos?

Eduardo Nascimento – Acho que estamos no caminho certo. Nunca se viajou tanto neste país. Claro que mais programas e políticas de incentivo são bem vindos. Não existe uma fórmula mágica e isso diz respeito tanto ao turismo doméstico quanto ao internacional. O importante é que você tenha um produto atraente com preços honestos. Veja o caso de destinos como a Tailândia e Ilhas Maldivas e tantos outros que têm produto e preços atraentes. A verdade é que o Brasil é muito caro. Você vai num restaurante em São Paulo e três pessoas acabam pagando 100 dólares cada uma. Isso diz respeito também a outros setores onde o fator tributário acaba pesando muito. Falta aos nossos governantes uma mentalidade para entender o turismo como importante setor de desenvolvimento na economia do país.

M&E – Isso diz respeito também ao segmento dos cruzeiros marítimos? A que atribui a redução na demanda pelos cruzeiros na costa brasileira?

Eduardo Nascimento – Sem sombra de dúvidas que falta aos nossos governantes a consciência da importância de setores como o dos cruzeiros. A legislação é ultrapassada, arcaica e pior do que isso: ainda querem adotar medidas que são completamente inviáveis. É o caso de exigir das companhias a contratação de tripulantes brasileiros em navios que fazem apenas escala na nossa costa, o que é um absurdo. Parece que em vez de ajudar eles trabalham contra. A queda no volume de cruzeiristas já era esperada. As cargas dos portos e impostos estão entre as mais caras e os passageiros também não têm novos portos. Até mesmo essa ideia de usar navios durante a Copa do Mundo é totalmente inviável em função do custo para trazer um navio em pleno verão europeu. Isso tudo é balela.

Fonte: Mercado & Eventos

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Área dos associados