O navio Iberostar Grand Amazon navega pelo arquipélago de Anavilhanas, um dos maiores de água doce do planeta (Claudia Tonaco)
Poucos roteiros conseguem ser tão especiais quanto um cruzeiro a bordo do navio Iberostar Grand Amazon. Acredite, essa é uma viagem que você precisa fazer e, quando estiver lá, entenderá imediatamente o que tento traduzir aqui.
Já na hora do embarque, o turista verá que diversidade é uma das palavras que a definem, a começar pelo perfil dos viajantes. O navio, de bandeira espanhola, atrai tanto casais em lua de mel como grupos de amigos e famílias inteiras desfilando no deck da piscina suas tantas gerações. Em comum, eles buscam um tour abrangente – outra boa definição – que combina a emoção das descobertas com aventuras em terras exóticas e novos sabores, mas sempre da boa gastronomia.
A rota de navegação que sai e retorna a Manaus, pelo Rio Negro (há também a rota do Solimões), visita ainda os igarapés próximos ao vilarejo de Jaraqui, a região de Três Bocas, situada no arquipélago de Anarvilhanas; Novo Airão, para entrar em contato com os botos-cor-de-rosa; e o território dos índios Cambebas, oferecendo, em cada passeio, histórias eletrizantes, visões instigantes, ótimas opções para compras de belos souvenires e um precioso intercâmbio cultural.
Para completar, essa viagem proporciona um “detox tecnológico”, no qual a conexão Wi-Fi dá lugar à conexão com a natureza misteriosa e perfeita, aquela que faz bater mais forte o coração do turista.
Você pega um avião rumo ao Norte do Brasil para pisar na realidade surpreendente. Tudo o que você aprendeu nos livros de geografia e história agora o encara acintosamente: a imbatível dupla calor + umidade inimagináveis do clima local; a cúpula verde + amarela do Teatro Amazonas; os rios, que são como oceanos de água doce; as cores contrastantes do encontro das águas e uma entidade chamada Floresta Amazônica, um ser vivo com regras próprias e absolutas.
Em pouco mais de um par de horas, você completa o tour por Manaus, visita o famoso teatro, compra maravilhosas e autênticas peças de artesanato indígena e parte para embarcar no que será o seu lodge de selva flutuante. A grande vantagem de conhecer a Amazônia a bordo do Iberostar é receber diariamente pílulas de aventura, sabendo que, ao fim do passeio, retornará à sua confortável e refrigerada cabine, para assistir a natureza passar da sua varanda, interagindo com ela apenas nos momentos certos.
Os guias são os maestros dos passeios, fazendo os turistas sentirem toda a força da Floresta Amazônica (Claudia Tonaco)
Para quem está de férias, brincando de ser um explorador da selva, essa é a melhor maneira de entrar em contato direto com a floresta, sem que a Amazônia entre em contato com você. Isso significa deixar os jacarés, piranhas, cobras, insetos, umidade e chuvas reservados apenas para os dois passeios diários, programados pela tripulação. Eles farão tudo – e conseguem! – para transformar sua estadia num verdadeiro espetáculo.
Espetaculares também são os guias. Eles falam quase todas as línguas, inclusive a da floresta, e conduzem os visitantes com maestria. Já no primeiro passeio (uma simples caminhada na selva), percebe-se facilmente que a travessia seria muito mais complexa se não fosse pela protetora presença. Eles mostram onde podemos pisar, ou não, em que árvores podemos tocar, ou não. Revelam de impressionantes formigueiros à microscópicas secreções venenosas do que parecia ser um inofensivo sapinho. “O que seria dos turistas sem os guias”, comentavam os passageiros. Provavelmente não conseguiriam finalizar uma simples caminhada na selva…
Além de orientar, os guias escancaram os segredos da mata. Mostram uma das matérias-primas do perfume Chanel no 5, o pau-rosa, e a árvore da qual se extrai o leite-de-amapá, que tem propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes. De um cipó, parecido com tantos outros encontrados pelo caminho, os índios obtém o curare, anestésico usado na caça; de outro, o saracura-mirá, um energético para combater o cansaço físico e sexual; de outro ainda, o cipó d’água, se encontra água puríssima para matar a sede.
Na caminhada pela selva, guias revelam segredos da natureza (Claudia Tonaco)
Na exploração noturna pelo arquipélago de Anavilhanas, os guias pegam jacaré à unha, enxergam répteis na copa das altíssimas árvores, abrem a boca das piranhas, para mostrar como são afiados os dentes destes peixinhos impressionantes. No meio do rio, sob a luz das estrelas ou da lua cheia, desligam o motor dos barcos de passeio, para os visitantes ouvirem, pela primeira vez, o poderoso, o sublime som da selva.
O encontro com o boto-cor-de-rosa (Claudia Tonaco)
É na floresta, às margens do Rio Cuieiras, afluente do Negro, que moram os índios Cambeba ou Kambeba. Todas as semanas, a comunidade abre sua vila para receber os passageiros do Iberostar Grand Amazon e mostra o valioso trabalho de preservação da cultura indígena feito pelos professores indigenistas, gestores da escola local. Ali se aprende o português e o dialeto indígena, além das matérias básicas essenciais para a educação das crianças e jovens. A escola tem o apoio de empresas, como a Samsung, e também ensina aos meninos a arte da caça e da pesca; às meninas, a lidar com as atividades domésticas. Os alunos terminam o ensino médio na própria aldeia e há planos de levar uma universidade para a região.
Muito bem organizada, a vila dos Cambebas tem, além da escola e das moradias, horta, um centro médico, espaço para reunião da tribo e comércio simples. Ao fim da visita, os índios convidam os turistas a conferirem e comprarem as peças de artesanato, feitas com material de qualidade.
Entre um passeio e outro, o viajante curte o navio. Antes ou depois da chuva, o deck superior é o ponto de encontro para refrescar na piscina ou apreciar o cenário bebericando e comendo aperitivos no bar. A chuva geralmente coincide com o horário das refeições, feitas no restaurante Kuarup, que é uma das grandes atrações do passeio. O cardápio muda diariamente, mas sempre oferece pratos internacionais e o melhor da cozinha regional. É o lugar perfeito para você experimentar os deliciosos peixes de água doce, como o pirarucu, o tambaqui e o matrinchã, assados, fritos, cozidos ou em caldeiradas e pratos como o baião de dois. De sobremesa, nada se iguala ao sorvete de cupuaçu.
O turista aproveita a chuva para descansar, assistindo ao movimento das águas e das nuvens, da sua cabine. Embalado pela imagem relaxante, ele dá uma cochilada antes de tomar uma ducha revigorante e sair para o tour da tarde. A chuva termina pontualmente, e os passageiros se dirigem à ponte de comando, para embarcarem nos barcos de passeio.
Já no meio do rio, pontilhado pelas ilhas do segundo maior arquipélago de água doce do mundo, sem enxergar qualquer indício do continente, o viajante sente o excitante pulsar da natureza, nas águas caudalosas e nas ilhas de mata fechada. Navegando rumo ao desconhecido, entra em contato com uma sensação primordial, voltando a entender que a vida é feita de suspensão e incertezas. Essa emoção, libertadora, será sua principal recordação ao voltar para casa.
FONTE: TRAVEL3 / CLAUDIA TONACO
http://travel3.com.br/materia.php?um-outro-planeta-chamado-amazonia-4102